Wednesday, June 15, 2005

Sobre o Dr. Álvaro Cunhal

Já agora também não quero ficar de fora da oportunidade de tecer considerações sobre a figura de Álvaro Cunhal já que escrevo num blog e ele faleceu (se é que me faço entender...)

Penso que ninguém põe em causa a dimensão do seu intelecto e nas múltiplas formas como se manifestava, na profundidade do seu pensamento, na convicção e persistência com que o defendia, nos seus extraordinários desenhos, nos seus romances, no dicotomia do seu humanismo, austeridade e aristocracia . Em primeiro lugar penso que deve ser salientado exactamente esta extraordinária dimensão da personagem que ridiculariza e acentua a mediocridade dos nossos actuais líderes.

Depois acho de uma hipocrisia atroz dizer que o líder comunista não deve ser prestado homenagem nem sequer merece respeito na sua morte porque não se concordou com as suas ideias enquanto viveu. Isto está ao nível de dizer que não se deve lamentar a morte de Feher porque se é do Sporting.

Outra hipocrisia é dizer que os seus contributos para a liberdade e democracia são acidentais, e que se Cunhal contribuiu para acabar com uma ditadura (esteve 11 anos preso por isso) era com a intenção de implementar outra. De todas este é o argumento que mais me incomoda e mais uma vez penso que só contribui para descredibilizar ainda mais esta nova vaga pseudo-liberal que emerge na blogosfera.

A questão é que é irrelevante a nossa posição em relação às ideias do Dr. Cunhal, para além de ser bastante fácil não concordar com elas em 2005 num blog. A confusão reside no facto de se estar a comparar Cunhal a um Estaline falhado, de que Portugal foi salvo pelo PS. Ficou demonstrado que todas as suas crenças estavam erradas e é verdade que se tivesse conseguido tomar o poder em 75 teria sido um completo desastre para Portugal. Mas se Cunhal era tão convicto nas suas ideias era porque exactamente acreditava que conseguiria um Portugal mais justo com elas. Não o conseguiram convencer do contrário, nem os acontecimentos a Leste nem o debate em Portugal.

A sua irredutabilidade ideológica, é compreensível e fácilmente perdoável, pois apartir do momento em que a entregasse não lhe restaria mais nada.

1 Comments:

At 5:37 PM, Anonymous Anonymous said...

Concordo plenamente contigo, tanto mais que tirei umas horas e fui ao funeral, não por ser militante ou sequer simpatizante do PCP, mas por respeitar o homem que contribuí para tirar o país da ditadura e por respeitar as suas convições. De facto foi um líder ímpar como dificilmente voltará a existir outro em Portugal.
Uma das coisas que mais me impressionou ontem na marcha fúnebre foi um sentimento que, pressumo, fosse levemente semelhante àquele vivido na revolução de Abril: vi muitas pessoas que poucas ou nenhuma vez vieram a Lisboa, e que entoaram de pulmões bem abertos as canções da Revolução.
Sentia-se um cheirinho a revolução, que era a de Abril, mas que também era do amanhã...
Abraços

 

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