Os interesses do Estado
Um dos grandes problemas do sistema político português é o facto do seu centro de gravidade estar demasiado deslocado para a esquerda e ainda subsistir um complexo de direita em Portugal.
Como ainda temos um Estado muito pesado e omnipresente nos mais variados sectores da sociedade, existem ainda demasiados lobbis que através dos partidos usam o Estado em benefício próprio. É por esta razão que não existe um pensamento economicamente liberal no nosso espectro político, porque ninguém está verdadeiramente interessado em que o Estado diminua, pois automaticamente desapareceria a sua forma de subsistência.
Isto origina que o PSD seja considerado um partido de direita, quando por standards europeus seria de centro-esquerda, e o CDS um partido ainda mais de direita, quando a sua vocação é centrista, conservadora, com um fortes preocupações sociais e sem doutrina definida em termos económicos.
Por outro lado, origina uma sensibilidade exarcebada a discursos vincadamente de esquerda, que na actual situação financeira do País, deviam ser apelidados de demagógicos e populistas.
Basta lembrar que em quatro meses, esta governação socialista, anulou uma lei de arrendamento que apelidou de despejos, querendo introduzir outra que deixará tudo na mesma, dando ao estado um papel soviético.
E que preferiu subir o IVA, com um forte impacto negativo na nossa competitividade, a colocar portagens nas SCUT’S.
E que aceita que as nossas forças de segurança ameacem bloquear pontes e não passar multas.
E que anuncia um plano de investimentos públicos elevadíssimo, por razões meramente ideológicas (que na minha opinião oculta o pagamento a lobbis) em vez avaliar e debater quais as medidas que terão de facto um impacto sustentado na nossa economia.
Considero o TGV uma infra-estrutura fundamental a um país periférico como o nosso e que à muito tempo deveria estar pronto, assim como considero um erro tremendo ter-se apostado no desenvolvimento da nossa rede rodoviária em vez da ferroviária.
Relativamente à OTA, tenho as maiores dúvidas, até porque o Prof. Mário Viegas já demonstrou como é possível expandir a Portela, cuja proximidade ao centro é uma grande factor de atractividade para Lisboa (ou poderia ser, se devidamente integrado com a rede ferroviária e de metro da cidade...) e também acho que seria muito mais interessante complementá-lo com outro aeroporto para low-costs.
No entanto, a questão é que o PS apresenta estes investimentos como meio para relançar a economia, por razões ideológicas, quando os especialistas dizem que no caso português, são outras medidas que precisamos (equilibrar a balança comercial, absorver o emprego do sector têxtil, etc...).
E de tal forma o PS defende a sua ideologia que deixa cair passado apenas 4 meses o seu Ministro das Finanças, o único que foi capaz de afrontar interesses instalados e com um discurso impopular, quase dando razão a Santana para se sentir injustiçado...
Sejamos claros. Já toda a gente percebeu que este Governo não está interessado em resolver os problemas do País mas é apenas mais um que usará os nossos impostos em proveito próprio, e que Sócrates (pela imagem e tom afirmativo) foi o escolhido como veículo para alcançar o poder e não pelas suas ideias (que ninguém percebeu quais são).
A razão pela qual o peso do Estado tem de diminuir em portugal, não tem a ver com nenhuma doutrina neo-liberal ou capitalista. Tem de diminuir porque só assim desapareceram os grupos de interesse que vivem à conta dele.
E não é elegendo mais do mesmo que as coisas mudarão. Apenas uma sociedade civil mais forte, com uma participação activa e efectiva na esfera pública poderá ser um factor de mudança.
2 Comments:
Estou de acordo com o diagnóstico que faz, mas há que ter em conta que as coisas são assim também porque a cultura portuguesa o permite.
Como acelerar a mudança cultural é para mim a questão de fundo, tanto mais que a década de 1990 foi prolífera em estudos sabre a questão. Mas não me parece que sejam os partidos a promovê-la, obviamente. Penso que haveria que criar um largo consenso de pessoas ligadas aos media em torno desta questão.
Mas o que pode acontecer é, como já ouvimos a João Cravinho, que afinal a culpa dos sucessivos falhanços (?) dos nossos políticos é da cultura nacional...
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